Tempestade

Em meio à tempestade, um guarda-chuva, uma marquise, uma banca de jornal. Não resolvem o problema, mas oferecem descanso e consolo no momento difícil. Quando o vento sopra, quando a chuva aperta, quando a rua inunda, quando somos traídos, quando somos julgados, quando nos sentimos tristes. Mas a chuva não vem do Céu? Graças a Deus que sim. Sei que Ele sempre está no controle, sei que sempre cuida de mim. Mas bueiros entupidos, falta de escoamento, falta de política que faz justiça para o ser humano exposto à calamidade vêm do homem. Infelizmente. Ainda assim, coloco os meus olhos no Céu. O Senhor do Tempo me faz ver que passada a tempestade brotará muita vida, que de forma alguma me fará lembrar o cheiro de esgoto hoje. Não me ajuda quererem me dar aula de natação na enchente, mas me ajuda amigos que se molham para dividir comigo seu guarda-chuva. Não me ajuda saber as muitas razões que geram esse tipo de situação, como, por exemplo, a filha do prefeito que estava depressiva por ter sido deixada no altar, distraindo a atenção de seu pai, e isso é um dos motivos que fazem da rua alagada mais uma contingência da vida. Não, o que me ajuda são os poucos amigos que me puxam para debaixo da apertada marquise e me fazem rir da situação. Tampouco me ajuda a omissão e o julgamento, afinal, quem me mandou estar ali, naquela hora? 'Como precisa aprender com a vida esse menino que amamos!', dizem. Sim, eu sei que me amam. Sei mesmo, sem ironia. Sei que também erro, como todos os que olham para mim nesse momento. Mas dispenso tal comentário, pelo menos por agora. Vou esperar o temporal passar debaixo daquela banca de jornal e quem estiver ali comigo será mais amigo. Não quero ser injusto com ninguém, tendo ou não sido comigo. Mas sou um ser humano como todos. Como aquele que está se molhando, como aquele que observa da janela de seu apartamento. Confio em Ti, Senhor!