Aí você está zapeando entre os canais da sua TV e se depara com uma cena de novela. Nesta, sutilmente, se reforça o antagonismo religiosos versus homossexuais. Os primeiros são retratados como bitolados, preconceituosos, totalmente sem noção e desrespeitosos com os que pensam diferente. Os outros são maduros, sensatos, pacientes, amorosos, firmes na medida certa, equilibrados ao lidar com os primeiros. Certamente existem religiosos assim e homossexuais assim também, não nego isso. Mas não é a realidade toda.
Existem religiosos que, mesmo que particularmente não concordem com determinado comportamento, são respeitosos, amorosos, tratam todos com dignidade, dialogam, são gentis com os diferentes, não fazem acepção de pessoas. E existem pessoas do outro grupo intolerantes, desrespeitosas, amargas, agressivas, preconceituosas. A questão não é a religião ou a opção sexual, mas o respeito que deve ser estimulado entre os que são e pensam diferente. Porém, com um intuito pseudopedagógico (que a maioria dos telespectadores não percebe), ao invés de se levantar a bandeira do respeito mútuo, sem estereótipos, sem polaridade religioso mau e homossexual bom, ao invés de se mostrar uma convivência pacífica e respeitadora da diferença de opiniões de ambos, não, se reforça uma guerra que cada vez mais percebemos em nosso dia a dia, seja no mundo real ou no virtual. Infelizmente.
Eu gostaria que o amor e a tolerância fossem incentivados de verdade - e não em forma de preconceito contra os "preconceituosos". Sei que muitos religiosos deixam a desejar, são infelizes, são tal como retratado. Mas muitos, muitos mesmo, não são. E as pessoas precisam entender de uma vez por todas: para que haja respeito não é necessária uma uniformidade de pensamento. Posso discordar, ter minha visão de mundo diferente, valores diferentes, mas ainda assim posso (e devo) respeitar o outro, aprender com o outro, amar o outro diferente de mim. Valorizá-lo não porque é um igual, mas por sua individualidade, por seu todo e tantas contribuições que pode dar à sociedade em que ambos vivemos. Infelizmente, esteja de um "lado" ou de outro (esqueça isso, não existem "lados", isso é o que querem que você pense), é uma pena que nos concentremos nas diferenças e não no que podemos construir juntos.
Após escrever tudo isso, certamente alguns me interpretarão mal. Muitos gays falarão que sou mais um cristão preconceituoso pois, à luz da minha fé, eu disse que não concordo com o comportamento deles. E muitos cristãos dirão que estou me desviando da fé: pois disse que podemos aprender e construir muito junto com os primeiros. Mas não estou nem aí: intolerantes não entendem o que é dialogar, não enxergam o outro mas apenas rótulos que a mídia e o senso comum vendem. Porém o Jesus que conheço falava com todos, tocava a todos com ternura, olhava com graça. Jesus via para além dos estigmas sociais. Eu quero ser parecido com Jesus. Estou certo de que as pessoas só conhecerão o Deus de Amor que pregamos se, antes de pregarmos com palavras, as amarmos com atitudes.
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