Sem Fantasias


Minha relação com o Carnaval é interessante. Eu lembro que, ainda criança, eu assistia aos desfiles pela TV - uma daquelas de tubo, com 14 polegadas - e achava tudo muito criativo, colorido, animado. A Apoteose lotada, milhares de pessoas fantasiadas que não perdiam o ritmo na avenida e ainda os sambistas que cantavam sem parar e sem perder a voz. Os desfiles aconteciam madrugada a dentro, mas mesmo assim assistia a boa parte deles. O sentimento era: "a sociedade está em festa, que legal!".

Crescendo, perdi o interesse pelo Carnaval, exceto pelo feriado que é super bem vindo! Haha. Não que não continue admirando a criatividade popular na elaboração de carros alegóricos e fantasias, ou não perceba que é um período mágico que contagia boa parte das pessoas, ou então que despreze a alegria de um samba bem executado. Isso é ótimo! Sei também que é um escape na vida de pessoas que ralam o ano inteiro, que enfrentam o descaso do governo nos diversos setores, que mais sobrevivem do que vivem. Contudo percebo hoje que é uma alegria fugaz.

Desde que me converti a Cristo, nunca ouvi de um pastor: "você não pode participar do Carnaval", ou pelo menos não que me lembre. Contudo deixou de fazer sentido. Passei a ir a retiros espirituais nessa época do ano e o que vivia ali era muito mais significativo e feliz pra mim. E, mesmo quando não ia, não me sentia atraído pelo brilho fabricado pelo mundo. Sim, se trata de uma experiência pessoal, não a imponho a ninguém. Mas como gostaria que outros descobrissem a alegria e o prazer de se estar na presença de Deus! Por isso escrevo nesse blog, por isso falo tanto Dele!

O problema não está na festa coletiva em si, na criatividade, na música. Não está no prazer, não está na dança, muito menos na alegria compartilhada desses dias. Mas está em muitos ainda não terem se encontrado e estarem buscando alegria em fontes esgotáveis. Está no excesso de álcool que gera tantos acidentes (como se não fosse possível ser feliz sóbrio), na promiscuidade generalizada (que não só alastra DSTs, como objetifica o ser humano que foi criado para prazeres inteiros e não mutilados), está na fuga das pessoas de si mesmas quando na realidade elas gostariam de ter um porto seguro dentro de si. Geralmente é o que vejo.

Só Deus pode preencher essa sede existencial. Sim, Ele é a fonte inesgotável de prazer que tanto buscamos! É quem significa e ressignifica a vida hoje e todos os dias, inclusive dias úteis. Não se trata de ignorarmos por completo a cultura, desprezarmos o que há de bom nela. Mas vivermos as coisas boas da vida de forma verdadeiramente boa pra gente. A partir do nosso relacionamento com Deus somos impelidos a viver relacionamentos inteiros, verdadeiros, uns com os outros. Não precisamos de uma fantasia pra sermos aceitos e amados. Não precisamos fazer o que todo mundo faz pra sermos felizes. Mas em Deus somos inteiros todos os dias, inclusive na quarta-feira de cinzas.

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