Sexta-feira, não dava para saber que horas. Humberto estava ali, naquele quarto escuro, sozinho. Queria e não queria receber pessoas. Na verdade, sentia-se solitário, ansiava por atenção e cuidado. Mas achava que ninguém se importava de verdade com ele. "Não quero ninguém aqui por pena", dizia pra si mesmo. E naquele claustro se escondia, inclusive de si mesmo. Dormia, acordava, dormia, imaginava. Mas não sonhava. Ah, que saudades sentia de seus sonhos! Infelizmente a expectativa de vida dava lugar à expectativa de morte. E dormia de novo.
No sábado nada mudou. Só lembranças doloridas e um vazio que aumentava em seu peito. A dor era terrível! Porta trancada, um choro represado, sonhos despedaçados. Fome? Quase nenhuma. Faltavam forças para ir atrás até da sobrevivência. E Humberto morria, dormia, morria, morreu. Só o seu corpo não esfriou. E dormiu.
Domingo ensolarado, portas abertas. Janelas abertas e um observador olhando através delas. Alguém havia levado Humberto para fora. E o pegou pelas mãos. O observador então sorri: vê Humberto e Jesus de mãos dadas caminhando e conversando. Humberto estava vivo, tanto fora quanto dentro de si. E se identificou muito com Jesus, pois também esteve morto e no terceiro dia ressuscitou. Assim como Humberto, Jesus trazia marcas. E o observador era o próprio Humberto, que agora poderia sair daquele quarto e viver. Era domingo de Páscoa e o túmulo estava vazio!
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