Gabi estava sentada no meio fio da viela próxima a sua casa. Abraçava seu travesseiro bem forte, enquanto desconhecidos faziam perguntas ao seu pai. As luzes oscilantes e o som alto eram bem diferentes daqueles de um ano atrás em sua casa.
Ela lembrava de forma vívida do seu avô Carlos contando causos, enquanto seus irmãos faziam guerra de almofadas e sua mãe colocava a mesa. À meia noite todos oraram, comeram e trocaram presentes. Ela recebeu do seu avô um correntezinha que pertecera à sua avó, falecida há muitos anos. Ele disse: "Pra você lembrar que é a nossa eterna princesa".
Bem, já era quase Natal de novo e desta vez o clima era outro. A ambulância saiu da casa, e o seu avô também. Ele estava tossindo há dias, teve febre e, em meio a uma pandemia, precisou ser internado. Aos nove anos de idade, Gabi não sabia o que pensar a respeito daquela cena. Foi quando ouviu uma voz familiar, de alguém que sentou ao seu lado.
"Ele vai ficar bem, aconteça o que acontecer", dizia o menino.
"Mas levaram ele, que está sozinho agora e..."
"Eu sei, eu vi. Meu pai está naquela ambulância também e ele é muito bom no que faz. Tenho certeza que seu avô se sentirá seguro. Ele não é um homem de fé?", falava calmamente o amigo.
"Ele é. Sim, ele é", dizia Gabi, que olhando para o lado não viu mais o garoto. Foi quando sua mãe a chamou e ela foi pra casa.
Naquela noite ela custou a dormir, pensando em tudo o que havia acontecido. Comentaria algo com seus pais? Talvez. Mas preferia simplesmente pensar que de manhã seu Carlos já estaria de volta ao lar. Após algumas horas, acordou ouvindo um telefone tocar. Já era manhã, bem cedo. Ao sair do quarto, recebeu um abraço apertado de seus pais. Lágrimas corriam de seus olhos. Não foi necessário perguntar o motivo. Ela sabia.
"Deus esteve o tempo todo com ele, minha filha. E agora seu avô está em paz!", disse a mãe.
"Eu sei. Jesus me contou quando saíram com vovô daqui."
"Jesus?", indagou o pai.
"Sim, papai. Eu tenho certeza que foi ele. No início eu achava que ele ainda era um bebê por causa do presépio, depois achei que ele era um adulto todo machucado, mas ele tem a minha idade! Ele falou de um jeito que eu entendi, então percebi que era ele. Vovô sempre disse que Jesus fala de um jeito que a gente entende e eu reconheci a sua voz. Mas... mesmo assim eu estou triste, papai", disse enxugando os olhinhos de jabuticaba.
"A gente pode chorar, sabe? Faz parte. Jesus também chorou. Mas temos muito mais motivos para nos alegrar e agradecer. Nosso Natal esse ano será de ações de graça, ou seja, de gratidão".
Continuou o pai: "Assim como nós, muitos no mundo estão chorando seus entes queridos ou amigos que partiram. Esse ano foi difícil. Mas precisamos guardar a fé. Vamos lembrar dessas pessoas queridas, agradecer a Deus pelo tempo que seu avô esteve conosco, vamos recordar dos seus causos."
Passados alguns dias, era noite de Natal, e a família propôs uma dinâmica: cada um escrever num papelzinho um motivo de gratidão pela vida do seu Carlos. E então esses bilhetes deveriam ser lidos e colocados na árvore montada. Quando chegou a vez da Gabi, ela não disse nada e foi direto pra árvore. Tirou de sua mãozinha a corrente que seu avô lhe dera, a pendurou no pinheiro e disse mais para si mesma do que para os outros: "Obrigada, Jesus, por ter me dado um avô tão especial."
Eles oraram, se abraçaram, e o menino Jesus sorriu olhando a cena da janela.
Uma bela história. Forte, que nos emociona e faz refletir sobre a vida e, principalmente, sobre nossa vida futura ao lado de Cristo. Isso nos serve como combustível para continuar enfrentando esses dias tão difíceis. Perseveremos.
ResponderExcluirAmém ❤
Excluir